Ariranha

Ariranha (Pteronura brasiliensis) 

É o maior membro da família dos mustelídeos, podendo chegar a 180 cm de comprimento e 32 Kg de peso. O corpo da ariranha é alongado, possui membranas interdigitais nas patas, orelhas pequenas e arredondadas e focinho coberto por pêlos curtos de cor marrom. Cada ariranha apresenta uma mancha pardo-amarelada única na região da garganta e pescoço, cuja forma permite a identificação individual dos animais. Vocalizações e marcações odoríferas são importantes mecanismos de comunicação, utilizados para evitar contatos diretos entre grupos de ariranhas.

A espécie é endêmica da América do Sul e historicamente ocorria na maioria dos países, desde o norte do continente, passando pelas Guianas, Colômbia e Venezuela, até o centro-norte da Argentina e em direção oeste até os Andes. No Brasil, a espécie apresentava ampla distribuição, desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia, com exceção da região semi-árida da Caatinga, com ocorrência na Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica. Atualmente, acredita-se que a espécie não ocorra mais em grande parte de sua distribuição histórica, com populações viáveis restritas apenas à região Amazônica e ao Pantanal. Apesar de registros indiretos da espécie no norte do Paraná, acredita-se que a espécie esteja extinta em toda a Mata Atlântica.

Sua alimentação consiste principalmente de peixes, podendo consumir pequenos mamíferos, aves, répteis e eventualmente invertebrados. a ariranha tende a ser seletiva durante a estação seca e apresenta hábito oportunista na cheia, quando os peixes se dispersam para as áreas de floresta alagada.

Os indivíduos tornam-se maduros a partir de dois anos de vida, sendo que fêmeas reproduzem aproximadamente até os 11 anos de idade e os machos até os 15 anos. A reprodução pode ocorrer ao longo de todo o ano, a gestação dura de 52 a 70 dias, nascendo de um a cinco filhotes dentro de tocas cavadas nos barrancos dos rios. O desmame ocorre por volta dos nove meses, com os filhotes permanecendo com o grupo familiar até os 2 ou 3 anos de vida, quando saem para formar seus próprios grupos.

São animais sociais, vivendo em grupos monogâmicos de 2 a 16 indivíduos. Ao longo de seus territórios, os grupos de ariranhas constroem locas e latrinas nos barrancos dos corpos d’água. Estima-se que a longevidade da espécie é de aproximadamente 20 anos, com um registro de um macho reprodutor aos 15 anos de idade no Peru.

O tamanho populacional atual da espécie é desconhecido. Ao longo do Projeto Ariranha, em uma área que abrange apenas 10% do lago da Usina Hidrelétrica de Balbina, foram identificados 29 grupos, totalizando 130 indivíduos. Entretanto, por conta da proibição da caça, é esperado que as populações da espécie estejam em fase de recuperação gradativa na bacia Amazônica e no Pantanal.

A espécie apresenta hábitos semiaquáticos, habitando diversos tipos de rios, córregos, lagos e florestas inundadas de acordo com a sazonalidde da região. De maneira geral, os indivíduos preferem ambientes de águas claras ou escuras, como pequenos igarapés, com preferência por locais de maior diversidade de peixes, principal alimento consumido pela espécie. Em muitos locais a ariranha e a lontra neotropical vivem em simpatia. A coexistência dessas espécies é viável devido às diferenças comportamentais e principalmente da dieta.

As ariranhas têm o hábito de marcar seu território espalhando fezes e urina, especialmente na entrada das suas tocas.

No passado, a ariranha foi intensamente caçada, devido ao alto valor de comercialização de sua pele, utilizada na alta costura internacional. Atualmente, pode-se mencionar ainda a perda e degradação do habitat por conta da construção de hidrelétricas, e conflitos com pescadores, que consideram a interferência da ariranha negativa durante a atividade pesqueira. Por isso, a espécie encontra-se ameaçada de extinção na categoria “Vulnerável” no Brasil,  e mundialmente “Em Perigo”.